sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Vampiro

Quando te bebo te sinto
Como um fogo que consome meu corpo.
E deixo descer pela minha goela
O que de você ainda me assusta.
E desse jeito meio louco,
Te absorvo com um vício
E levo dentro de mim como uma sina.
Possuído me perco
Nesses contraditórios sentimentos.
Te amo, você sabe
Mas odeio precisar de você.
Juntos somos força e beleza
Eu sem você perco o brilho.
Numa simbiose assustadora,
Me tornei um espelho do seu amor.
Sem perceber fui levado
A ser quem não sou.
Onde termina você em mim?
Queria saber a resposta...
Enquanto não acho
Vou vivendo da sua energia.
Como um vampiro sedento
Mas com a alma vazia.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Bem vindo

Procurei. felicidade...

No sacro e no profano
Normal e insano
Fui lógico e freudiano
Olhei o céu e o oceano.
Em vão...

Vasculhei..
Em florestas e lagos
Drinks e tragos
Profundos e vagos
Dor e afagos.
Em vão...

Busquei...
Na lua e no sol
No altar e no lençol
No sustenido e no bemol
Com rede e anzol
Em vão...

Já sentindo no peito a lança
Veio uma inesperada esperança
E a resposta que eu procurava

Sem o egoísmo que trava
Jorrou em mim como lava
A felicidade em forma de criança.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sumido?

É amigos, ando sumido. falta de tempo de estar aqui com vocês.
Mas nem todos os motivos são ruins.
Estou finalizando o livro, vou ser pai e as responsabilidades da vida me impedem de expressar as loucuras.
E eu sempre avesso as ordens, fui alcançado pela mão do destino.
Confesso que estou amando a nova fase de minha vida apesar da falta que esse espaço me faz.
Porém distâncias são passageiras e idéias estão fervilhando.
Em breve mostrarei alguns poemas do livro e outros que a felicidade anda me inspirando;
Preciso só de mais uns dias para voltar ao normal rs
Abraços a todos que me visitam. Peço desculpas pelo sumiço e por não estar comentando nos blogs. Obrigado pelo carinho nos comentários

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A primeira morte

Os olhos abrem com dificuldade
A luz desconhecida é cegante.
O ar falta aos pulmões
Um tapa faz derramar as primeiras lágrimas.
Está sujo, nu e exposto
Analisado da cabeça aos pés a procura de defeitos
O cheiro de éter entorpece
As muitas vozes assustam
Um colo de mulher acalma
Suas feições não reconhecidas, mas estranhamente cúmplices
Um homem e uma tesoura, sua voz é familiar
O corte é seco e dolorido
Vínculos do passado cortados a sua revelia
Transformação. Morte.
Agora é um individuo e não mais extensão
Está definitivamente só.
Chorando protesta
Mas não existe volta
A partir desse momento se torna uma marionete do destino.
E percebe tardiamente
Que à hora do nascimento será a metáfora de sua vida

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ela solidão

Nem bem os olhos secaram as primeiras lágrimas
E outras verteram como cachoeiras.
Outro golpe desferido contra um coração frágil,
Mais uma das grandes desilusões.
Ela jurara a si mesma: “nunca mais”.
Só não sabia como cumprir a promessa.
Como se protege um coração?
Saber se um olhar é verdadeiro
Ou um toque falso?
Não se ensina isso na escola,
Só na porrada. Na dor...
E ela andava cansada dessa vida.
Temia que nunca fosse digna do amor que ouvira falar.
Onde estava o príncipe encantado da infância,
Ou o homem perfeito dos romances?
Onde se esconderam seus sonhos?
Muitas perguntas, poucas alegrias...
Conviveu sempre com lares desfeitos,
Amarguras eram ouvidas com requintes de detalhes,
Não era para ela acreditar no amor.
Mas acreditava, acredita.
Sabia que de alguma maneira alguém,
Em algum lugar, sentia-se igual.
Tinha que haver essa pessoa.
Ninguém pode se sentir metade.
E ela era assim, incompleta.
Talvez não fosse só a falta de amor carnal.
Ela se sentia só na vida.
Era como se nascesse em uma redoma
Distante do mundo real.
Tudo em sua vida era patético
Ou poético.
Sem meio termo.
Quem sabe patético poético, mas igualmente vazio.
Sem saber lidar com a vida
Entregou-se as palavras
E poetizou chorando suas mazelas rotineiras.
Bebeu as mágoas em doses generosas,
Fugindo da vida que nunca entendeu.
Ainda a vejo sentada no mesmo boteco.
Cigarro no cinzeiro, conhaque no copo
E a caneta escrevendo sobre o papel molhado de lágrimas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Metades

Se eu pudesse por um momento ler sua mente
O que ela me diria?
Sou o amor da sua vida ou alguém que preenche seus vazios?
A ânsia em descobrir é tão grande quanto o medo da verdade.
Prendi-me tanto a esse dia, sentimento...
Busquei em mulheres vazias,
Em corpos vadios,
Bebedeiras sem fim.
Esse tal amor que toma por inteiro.
Agora olho para trás e vejo vazio...
E em seus olhos, dúvida.
O mal está em mim incrédulo
Ou você em outra freqüência?
Temo momentos de “verdades”
E sofro com vidas de “mentira”
Queria ter ainda os primitivos sensores
Os que diziam em off: “tudo vai ficar bem, vocês se amam.”
Onde eles se perderam?
Onde nos encontramos tão individuais?
Essa maldita separação na mente
Ego e ID
Odeio.
Odeio pensar que somos mais ou menos que amor..
Mas me sentiria um bosta sem respostas,
É sou confuso. “basket case”
Azar seu que me lê.
Ou meu que me levo a sério.
DEUS, só quero aquela velha fórmula:
Um amor, um filho e se puder um pouquinho de felicidade

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O que o amor?

Os olhos dela pareciam estranhos. Com um que de julgamento. Aquele brilho fascinante de antes tinha se tornado de um negro acusador. Seus toques eram agora substituídos por um farejar disfarçado. Como a de um cão que procura provas.

Os dele oscilavam entre incrédulos e culpados. Talvez não por ter feito algo, mas por saber que ela sempre teria motivo para julgá-lo. Sim, ele passou a vida deitando de camas em camas em uma busca frenética. E como amar um homem assim? Mas ele a amava e muito. Só não sabia demonstrar. Fazia poemas e músicas dedicadas a ela, mas essa sempre foi sua arma de sedução. Como agora ter certeza de que era verdadeiro?

Ela sentia seu corpo vivo em momentos íntimos. Sabia que não era mentira o prazer ou seus arrepios. Mas sempre havia inconstância nele. Sua tristeza, seus devaneios, culpas e o medo de se comprometer a ponto de colocar alguma coisa acima de seus dogmas.

Ela pensava que se relacionar era entrega e ele que era deixar fluir o bom esquecendo passado. Ela gostava de DR e ele achava que resolvia tudo em uma trepada.

Assim passaram os anos de “namoro”. Nenhum feliz, mas ninguém totalmente insatisfeito. Em um comodismo mórbido aos olhos dos românticos, mas em uma cumplicidade única entre duas pessoas que se amam.

Onde reside o certo ou o errado no amor? Quem dera ele ou ela soubesse. A única coisa certa entre eles era que nada, nunca, teria capacidade de separá-los

Explicação

Olá meus amigos,

Devido a problemas de ordem particular não estou conseguindo manter o blog atualizado e comentar os que sigo fielmente.
Em breve tudo voltará ao normal e acompanharei com esmero seus escritos que sempre me encantaram.

Obrigado por vocês pela força que sempre me deram. Nunca esquecerei as palavras de apoio que sempre recebi. Isso me faz ter certeza de que não tardarei a voltar.

Beijos a todos e até a volta.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Para a peixinha

Eu entendo suas dores,
Esse amar entregue e sem limites,
A solidão de não se fazer compreender.

Também vejo as lágrimas caindo no teclado,
A pausa medindo o quanto se expor,
E a impossibilidade de conter a verdade.

Sinto suas noites insones
Tentando achar o erro,
Mas tirando o melhor do inevitável fim.

Somos peixes fora dӇgua sem amor.
Vagamos soltos em busca de outras redes
Esperando que o próximo complete nossa falta.

Porém amiga, somos fortes.
E estamos sempre prontos a recomeçar.
Porque nenhum fracasso pode nos tirar
A crença no amor verdadeiro.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Fim

O primeiro corte raso e indolor
Um filete fino de sangue escorre
A carne lateja em espasmos
Outro gole, trago e lágrimas...
A mente turva cria imagens,
Diálogos mudos:
“Mãe estou machucado”
“Padre, isso é pecado?”
A lâmina troca de mão.
Hora da decisão final.
O segundo corte profundo,
Decido e dolorido.
O sangue esguicha.
Último gole generoso.
O corpo afunda na água.
Cigarro preso a mão imersa.
A banheira tomada de vermelho vívido,
Lembra um filme de Tarantino.
Sorriso sarcástico e fingido
A consciência some
A última frase de uma vida...
“Inferno, aqui vou eu.”

domingo, 19 de abril de 2009

Contrastes

Claudia encarava a vida como um jogo de pôquer. Todos eram adversários em potencial. Era uma grande jogadora e sabia quais trunfos usar: Mascarar emoções e observar atentamente os sinais. Aprendeu muito cedo a usar essas armas. Desde o tempo em que vendia flores nos bares de Cidade Baixa. Tinha sempre um sorriso no rosto, uma frase feita e seduzia com ar inocente. Assim aprendeu as manhas da vida e como extrair prazeres evitando a dor.
Não era uma mulher linda, daquelas de parar o trânsito, mas sabia usar a feminilidade com maestria. Tinha cabelos e olhos negros e uma pele alva que lhe dava uma aparência entre gótica e clássica. Usava maquiagem suave e adornos discretos. Parecia saída de um filme, de tanta perfeição. Uma matadora. Colecionava corações como se fossem selos. Usava os homens ao seu bel prazer. Desfrutava do melhor da vida. Ganhava muitos presentes de seus admiradores, mas nunca se vendeu. Era orgulhosa demais para isso. Apenas aceitava de bom grado as demonstrações de afeto, mas não precisava deles para viver. Tinha conseguido vencer por conta própria.
Numa noite estava sentada em um bar e ria dos homens que disputavam ferozmente a honra de pagar-lhe um drink. Eram vários “espécimes interessantes” pensava se decidindo quem seria o escolhido. Entre uma e outra jogada de cabelo, seus olhos se cruzaram com um rapaz na mesa do canto. Se ela parecia Gilda, ele estava mais para um nerd de cinema besteirol.
Ele estava com um grupo de amigos que volta e meia olhavam para Claudia entre risos e cobiça. Mas ele se mantinha olhando para baixo. Léo era um rapaz tímido e sem brilho. Estudava letras e era poeta nas horas vagas. Não se podia dizer que era feio, ao contrário, tinha vários encantos. Inteligente e sensível era o sonho de consumo das meninas românticas. Tinha olhos azuis escondidos por um par de óculos e uma pele morena que fazia um contraste belo. Durante todo o tempo que permaneceu no bar não desviou o olhar do copo. Talvez tenha sido o único naquele salão a passar incólume pelos encantos de Claudia.
Ela também percebeu isso e gostou da idéia de seduzi-lo por diversão. Como já tinha marcado o encontro da noite deixou a brincadeira para outro dia. Mas antes de sair se certificou que ele era freqüentador do bar. E era. Passava regularmente por lá na saída da aula.
Algum tempo se passou até que se encontrassem novamente. Claudia dessa vez estava sozinha e Léo chegou com sua trupe de sempre. Os rapazes não tiravam o olho dela, que sorria como se fizesse um convite. Não demorou para um deles vir até a mesa e se sentar. Como era um rapaz lindo e seu alvo parecia estar mais interessado na vodka, Claudia se deixou levar e esqueceu-se de Léo.
Eles se esbarraram várias vezes nos meses que se seguiram e a cena sempre se repetia.
Ela tentando seduzir e ele parecendo não ter interesse. Claudia já estava enlouquecida. Nenhum homem havia ficado imune aos seus encantos. Aquele rapaz só podia ser gay ou cego. Ela teria que tomar uma atitude que evitava a todo custo, atacar de maneira escancarada. E assim foi.
No fim de semana seguinte ela se produziu para arrasar e ficou no bar a espera de Léo. Ele não demorou a chegar com os amigos, mas dessa vez ela o encarou com desejo, e finalmente se fez notar. Os amigos de Léo o cutucavam, chamando a atenção para o que acontecia, mas ele era tímido demais para se insinuar. Ao perceber isso, Claudia esperou que ele se levantasse e foi atrás puxar conversa.
Ele a recebeu com um misto de pavor e euforia. Nunca imaginou que uma mulher como ela poderia notá-lo. Claudia o convidou para sua mesa e começaram uma longa conversa mesclada com beijos tórridos.
Era nítida a química que brotava de seus corpos. Tinham pouco em comum e a descoberta de mundos novos fez nascer um encantamento mútuo. Depois de um tempo ela se “ofereceu” para ir a casa dele e se conhecerem melhor. Claudia não era mulher de perder tempo, e mesmo um pouco assustado, Léo concordou e saíram em direção a sua casa.
Nem bem a porta se abriu ela já foi se jogando sobre ele, beijando seu pescoço e tentando desabotoar sua camisa. Léo a afastou, carinhoso, pedindo que tivesse calma. Aquilo desconcertou Claudia. “Que homem estranho” pensou antes de encará-lo com dúvidas de ter feito a escolha certa. Ele sorriu e afastou uma mecha de cabelo que caia sobre seu rosto e a tomou em um beijo terno e apaixonado. Devagar a conduziu ao quarto e cheio de carinho começou a despi-la. Claudia estava atônita, não sabia o que fazer e então se deixou levar. Cada toque dele em seu corpo era uma sensação nova e quando finalmente se deixou dominar, sentiu um prazer que jamais experimentara em sua vida.
Depois de um tempo ele adormeceu e ela não pode evitar o sorriso ao olhar aquele menino que estava deitado ao seu lado. Era mais bonito do que ela se lembrava e não podia negar que era também um amante “de primeira”. Pensou em quebrar sua regra número um de nunca repetir homens, mas logo mudou de idéia e levantou para se vestir. Sim, tinha sido bom, mas era hora de voltar a sua vida.
Caminhou em direção a sala com cuidado para não acordá-lo e quando chegou lá acendeu a luz para procurar sua bolsa. O que viu a seguir foi um choque. Haviam desenhos dela espalhados por todos os cantos. Alguns com pequenos poemas escritos no rodapé. Ele havia captado vários momentos e reproduzido de cabeça, em horas que ela nem notava seu olhar. Era uma declaração de amor silenciosa e ao perceber isso não pode evitar as lágrimas.
Claudia olhou um a um os desenhos e ao fim sentiu uma vontade louca de voltar ao quarto e se jogar nos braços de Léo. Ela viu que podia amá-lo também que isso seria uma vida nova. Sonhos românticos começaram a povoar sua mente e derreter seu coração de gelo. As lágrimas corriam soltas e estava confusa com sua reação.
Precisava pensar. Tudo aquilo era muito novo e foi ao banheiro lavar o rosto e se recompor. Ao erguer a cabeça e se encarar no espelho tudo ficou nítido de novo. Secou os olhos e retocou a maquiagem enquanto falava em voz alta como a tentar se convencer. “A vida não é um conto de fadas.” Então passou o batom decidida e voltou para a sala dando uma última olhada em seus sonhos. Bateu a porta deixando para trás o que poderia vir a ser o único amor de sua vida.
Na rua, o brilho do sol já se fazia notar e caminhou por entre os carros com uma certeza no coração. “Ninguém, jamais, tiraria dela uma lágrima sequer.”

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Carta a uma amiga

Queria poder ser ainda seu melhor amigo,
Estar ao seu lado nessas horas difíceis
Entender o que te aflige e tortura.
Aqui tem um ombro, um colo e ouvido,
Esperando sua carência, seu corpo aninhado e seu grito.
Entendo tanto de dores e amores,
Então porque não me procurou?
Amor, amiga, nunca deve ser sofrido;
Ele é pleno de beleza, poesia e renovação.
Se te machuca, esqueça.
Você sempre foi maior que nós.
Era o porto seguro dos que a cercavam.
Onde foi que tudo isso se perdeu?
Seus lindos olhos verdes antes brilhantes
Agora são cinza e sem vida.
Seu sorriso se transformou em lágrimas.
E até sua vida quase entregou.
Não entendo amor assim.
Quero ver de novo sua coragem,
A garra e poder que te diferenciava.
E conte sempre com meu amor amigo,
Incondicional e eterno.
Força.
E aceite minha mão estendida
Hoje e sempre.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Poema da amante

"Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita do tempo
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
Em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente."

(Adalgisa Néri)


Minha inspiração anda perdida em meio a tantos sentimentos, por isso decidir postar um dos meus poemas favoritos.
Abraços fraternais a todos que me acompanham.
Em breve volto com os meus.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O preço da felicidade

Olhando a estrada da minha vida.
Me surpreendi ao ver rosas.
Encantado tentei tocá-las
E senti a fisgada dos espinhos.
Acordei do sonho...
Sim, a vida linda é a sonhada.
A realidade nos confronta com a dor.
Em tudo de bom há um mal escondido,
Uma mentira, uma intenção velada, uma traição.
A beleza mascarada é tentadora.
Atrai e seduz de maneira vil.
Aprisiona, ilude,
Até que embriagados sucumbimos.
Dai vem a conta...
Ser feliz tem um preço alto,
A ignorância.

terça-feira, 17 de março de 2009

Morte em vida

Transpassou num instante,
Como uma fecha flamejante,
E com uma dor lancinante,
Senti que ia morrer.

Pensei em qual Deus esfuziante
Eu ia rogar suplicante,
Para minha vida errante,
Continuar a viver.

Olhei calmo e silente,
E percebi inocente,
Que nada podia fazer.

Me deitei leniente,
Com o coração indolente,
E sorri do sonho de ser.

Não havia mais agonia
Era uma estranha alegria
De se fazer perceber.

E com louca euforia
Me entreguei a orgia
Entre a dor e o prazer;

quinta-feira, 12 de março de 2009

O reverso do verso

Versos soltos,
Palavras aparentemente sem sentido,
Poema desconstruído...
Tentativa vã de me conectar a você
Em uma linguagem singular.
Me desespero por querer te mostrar o novo em mim.
E assim te fazer entender,
O muito que o pouco de você é capaz.

Porque eu te amo!
Amo nas entrelinhas,
Na pausa entre as palavras,
No suspiro que surge em meio às lembranças.
E amo tanto que me perco tentando ser melhor.

Queria ter as armas dos verdadeiros artistas,
Mas sou apenas um homem apaixonado.
Deixo então a caneta deslizar sobre o papel
E abro meu coração por inteiro
Sentindo a insegurança peculiar dos amantes.

Trêmulo de paixão e medo de errar,
Me entrego as palavras e ao amor.
Assim posso te dar em beijos,
Em olhares e no aconchego do corpo,
O que em minha poesia faltar.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Em vão

Minha tristeza não é como embalagem de bala
Que enfeita ou pode ser removida na hora do prazer.
Está mais para aquele recheio líquido,
Que se espalha e muda o sabor inicial.
Ela está impregnada em mim,
E se liberta quando aprofundo quem sou.
Consigo domá-la por um tempo,
Mas sempre acabo me confrontando com sua face.
Talvez falte em mim a fibra para extirpá-la,
Ou mesmo tenha medo disso.
E se ela for embora e eu não for mais poeta?
Sim, sou incoerente e confuso.
Sou humano.
Não temo mostrar fraquezas.
Meu erro está apenas em me expor
Sem revelar o todo.
Mas o que é o todo além da soma de partes?
Ao escrever sobre essas partes desconexas de mim
Monto junto a quem lê
Meu real imaginário
Ou seria meu imaginário real?
De sentimentos e palavras vou sobrevivendo.
E as respostas podem estar em mim,
Ou em você.
Assim a busca continua...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Triste

Nasci para ser triste.
Sou assim derrotista por natureza.
Mesmo em meio a coisas lindas
Vejo sujeira e caos.
Dizem que depressão é congênita
Algo físico e incurável.
Ah sim, existem paliativos.
Drogas, álcool, remédios...
Mas prefiro escrever.
Nesse momento solitário revolvo as feridas.
Aqui líbero as feras reprimidas,
Os gritos silentes,
O amor que me salva da derrocada total.
E os dias passam...
E amanhece sempre do mesmo jeito.
Esse aperto no peito,
A dor ao abrir os olhos,
E a esperança que sua voz finalmente que conduza a luz.

quarta-feira, 4 de março de 2009

O melhor presente

Ontem foi meu aniversário.
O primeiro em que sorri ao invés de chorar.
Não tenho recordações dos tempos de infância, talvez nessa época fosse diferente, mas desde que me conheço por gente sempre me odiei.
Olhava no espelho e não gostava do que via.
Tinha tantas raivas guardadas no peito, tantos medos que me tratavam as pernas...
Era um nada buscando uma utopia.
Até que você surgiu em minha vida.
Uma avalanche de sentimentos díspares me tomou por completo.
E consegui ver felicidade onde só havia caos.
O amor substituiu a dor,
A esperança, o medo.
Enxergar o mundo pelos seus olhos me fez renascer.
Hoje sou completo.
Me sinto forte e capaz.
E me tornei o homem que sonhei.
Nesse aniversário ganhei o melhor presente que poderia desejar.
Seu amor.
Por isso deixo aqui minha gratidão
Cantando aos quatro ventos o que sinto por você.
Você é minha musa, meus sonhos, meu tudo.

EU TE AMO!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sedução

Ninfa da noite...
Com dedos como garras cravados em meu peito
Os olhos hipnóticos
E pernas que me enroscam numa dança sensual.
Dentes que mordem o pescoço sugando minha vida
Língua que me massageia a pele tirando arrepios
E lábios que se unem aos meus, amantes.
Ninfa da noite...
Se não vem em corpo te tenho em pensamentos
No cheiro do seu perfume entranhado na fronha
Ou na camisola abandonada ao pé da cama.
De olhos abertos te vejo nua.
De olhos fechados te sonho minha.
Ninfa da noite...
Venha logo me domar o corpo,
Prender meu coração,
Tomar posse do que é seu.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Saudades da minha musa

Nostálgica noite...
Entre um gole e um trago me deixo levar
Para onde meu coração foi feliz.
Lembranças lindas mescladas com saudade doida
Prendo-me então nas imagens vívidas de seu corpo
Ou no som de sua voz me dizendo amado.
Uma lágrima tão solitária como eu, cai.
Até elas se esgotaram...
Onde anda você minha musa de olhos claros?
Menina moça que me embalou os sonhos,
Queria ainda te cantar em versos,
Cheios de rimas e palavras de amor,
Mas hoje meu poema é triste.
Nostálgica noite..
O grito de amor preso na garganta:
“Volta logo, eu preciso de você.”

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Inevitável

Divido entre metades conflitantes de mim.
Ando em círculos de fogo que acendi.
Vago sozinho entre lágrimas,
Com dores que eu mesmo causei.
Não tenho culpas, nem raivas... Nada
Somente a certeza do fim.
Sigo adiante sem metas,
Passeando inerte num mundo cão.
Sem alegrias perenes, vivo as efêmeras,
E calo consciente o grito salvador.
Fujo da luz e beleza cegantes,
Prefiro o tato à visão.
Caminho descalço sobre pedras,
Navalhando a carne para suprir tristezas.
Em devaneios me acho.
E entre copos e corpos, morro e renasço.
Até que Deus tenha piedade,
E decrete o definitivo ocaso.

ferida

Ferida exposta,
Carne viva,
Dor lancinante,
Morrer.

Ferida imposta,
Carne passiva,
Dor latejante,
Transcender.

Analgésico;
Desinfetante;
Esparadrapo;
Gaze.

Anestésico;
Alucinante;
Escapo;
E.... quase.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ana Cristina Cesar

"olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas"

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Rompendo algemas

Temia escrever esse verso
E acontecer o inverso
Do que eu sempre quis.

Ver um sonho desfeito
Persistir no defeito
De sempre ficar por um triz.

Mas recordei o beijo
E reacendeu o desejo
E a vontade do bis.

Lembrei seu rosto sereno
E do corpo pequeno
Com trejeitos pueris.

Do seu sorriso saliente
Da mão impaciente
Da insegurança de aprendiz.

Sorri sozinho e encantado
Sim, você tinha me marcado
Como uma cicatriz.

Então fiz o poema
Rompendo a algema
Deixando para trás os dias gris.

Agora meu coração é seu
E quem antes era ateu
Crê que pode ser feliz.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Homenagem a mulher mais linda do mundo

Estou postando sua música favorita para mostrar o quanto você significa para mim. Em breve um poema só para você.

Pálida
Composição: Tavito/Aldir Blanc

Eu andei a vida inteira assim
Cintilando em despedidas
Meu buquê de sempre-vivas
Ou de margaridas num eterno adeus
Sensitiva, crio talismãs
E não perco a alegria
Canto como um passarinho
E, se o ar me falta,
Compenso em carinho
Toda feita de nuances
Morro como as flores dentro de um romance
Pálida, cálida, angelical.
Gosto de brincar, tranço de luar
Mortalhas pro meu aconchego
Pois morrer mais cedo é um jeito de pedir ao medo
Pra me dar sossego

Passa da meia-noite
E eu sonhando vou decifrar
O que as constelações
Escrevem na escuridão
Lá do balé da luz
Vejo meu corpo adormecer
Cansada, só volto a mim
Na estrela do amanhecer

Sei que vivo de morrer
Por ter outra idéia na cabeça
De tanto brincar com a sorte
Pode ser que a morte canse e me esqueça.

sábado, 31 de janeiro de 2009

O impossível

Hoje vou sair e tomar um porre daqueles. Fazer todas as bobagens que puder. Amanhã quero vomitar as tripas na esperança que saia de mim também esse enjôo que estou sentindo. Minha vontade é estapear essas pessoas hipócritas que cismam em se manter ao meu redor. Estou cansado de elogios bajuladores, comentários politicamente corretos, sorrisos pérfidos e concordâncias interesseiras.
Acordem zumbis! Posar de bonzinho é patético. Tanto quanto forjar uma felicidade estando com vontade de se atirar pela janela. Rebelem-se! Assumam as dores, amores, culpas, medos, ciúmes, cóleras... Isso que nos torna humanos. Peguem o lado difícil de suas vidas e transformem em poesia, impulso para crescer, em qualquer coisa... Menos desculpa para prostração.
Estou cansado. Quero ao meu lado quem me desafie, diga não, me indique livros ou músicas, que me faça andar para frente. Quem não tenha medo da chuva, de bala perdida ou do amor. Quero quem brilhe em sua própria luz e não quem seja a sombra sedutora de outros. Quero poder ficar em silêncio sem constrangimentos, quero risadas sonoras e puras, quero filhos feitos por amor.
Cansei... De olhares desviados, frases dúbias, tapinhas nas costas. Quero ouvir xingamentos se merecer. Melhor que a humilhação em forma de piedade performática. Quero marcar a vida de meus amigos, ser amado e inesquecível para alguém. Não um lindo quadro que serve apenas para ser admirado. Quero quem ame Deus, não o tema. Quem aprecie o vento no rosto. Quem tenha cheiro de aconchego.
Estou deprimido. Farto de mentiras. Cheio de coisas supérfluas. Exausto de falar em vão. Esgotado do tédio dessa vida ilusória.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Conto: Escolhas

Pedro nasceu em 20 de julho de 1969. No dia em que o homem pisou na lua. Pelas contas de sua mãe e do médico, estava atrasado pelo menos uma semana. Parecia estranhamente quieto, como se não quisesse nascer. Começava ali sua “rejeição” ao mundo... Em bebê não chorava e ficava horas olhando para o nada como a observar alguma coisa. Demorou a falar e andar, sua mãe achava que tinha algum problema e procurava especialistas para “curar” o menino. Nunca foi encontrada qualquer anomalia. “É apenas um rapazinho quieto.” diziam os médicos. Mas dona Norma não se conformava. Ela já era mãe de três garotos e sabia que crianças são peraltas e aquele menino era estranho demais. Sem o que pudesse fazer, resolveu dar tempo ao tempo.

Pedro foi crescendo, mas sua postura não se alterava. Permanecia quase sempre em silêncio, com seu inseparável fone de ouvido e um livro nas mãos. Se largava a leitura era porque estava escrevendo. Nunca conseguiram descobrir sobre o que discorriam suas anotações. Esses diários só foram revelados depois de sua morte, surpreendendo a família e quem o conhecia. Seu jeito era sempre frio e distante. Ninguém nunca soube o que se passava dentro dele.

A única pessoa com quem conversava era o avô paterno. Ele havia dado a Pedro seu primeiro caderno, e lhe ensinado a ouvir o blues que embalava sua solidão auto infligida. Ele pertencia a uma típica família italiana comandada pela Nona e depois pela Mamma, com sua prole ao redor da mesa nos intermináveis almoços de domingo. Aquilo mais parecia um “show de bizarrice”. Seus irmãos eram bem mais velhos, “carecas e grosseiros”. Haviam também as cunhadas “gordas e submissas”, sem contar com as “crianças remelentas”. O barulho era insuportável, cada um querendo falar mais de si que o outro entre garfadas enormes de lasanha a bolgnesa. Observar a máfia reunida era uma lição de vida, decidira que nunca se casaria, evitando perpetuar o que achava grotesco e vulgar. Eles não eram pessoas más e nem mal educados, “apenas medíocres”. E Pedro nascera para coisas grandes e não para se tornar pai de “crianças patéticas e nem casado com mulheres sem cérebro”. Não, ele permaneceria imune aquela “praga” que assolara toda sua família.


Era um rapaz bonito, com sua pele morena e olhar penetrante. As meninas sempre o encaravam com desejo, mas não conseguiam despertar sua atenção e acabava por virar chacota entre os colegas de classe pelo seu jeito introvertido de ser. Achava ridículo o comportamento linear daquele “bando de idiotas”. Nadava todos os dias, o que lhe dava um corpo belo e mantinha sua mente concentrada. Nessas horas silentes dentro d’água fazia planos para o futuro brilhante que iria ter ou criava as historias que ocupariam as páginas de seu diário.

Viver em solidão, mesmo que por escolha pode ser dolorido, geralmente é. Principalmente quando se é jovem e a cabeça fervilha de incertezas, mas ele estava determinado a continuar sua caminhada e encontrou nas drogas uma maneira de aliviar as dores e substituir pessoas que poderiam mudar seu destino. Se tornou um poço de dogmas que seguia a risca. Claro que ele tinha amigos ocasionais e namoradas descartáveis. Eram os anos 80 com sua liberdade estampada em outdoors coloridos. Andava com um grupo de rebeldes sem causa como ele. Pensavam iguais e faziam sexo entre si como se ainda vivessem numa comunidade Hippie. Alguns eram bissexuais, o que os faziam parecer mais liberais ainda. Pedro nunca teve essas experiências, pelo menos nenhuma foi relatada em suas anotações. Se teve, não foi relevante em sua vida.

Fazia sexo com frequência. Era libertador, como foi descrito por ele mesmo. Era como encontrava o Deus que sua mãe tanto falava e que em sua visão, estava mais para um et. Ali sim ele estava “em sintonia com o cosmos, embalado por substancias que faziam de seu corpo um templo único”. Nessa época conheceu Sara, uma menina que parecia sua versão feminina e virou sua parceria constante de sexo e com quem discutia suas idéias mais profundas. Ela era linda com seus longos cabelos cacheados e aquele nariz alongado, típico das judias. A mãe tremia cada vez que Pedro citava o nome de Sara. Vivia repetindo que eles eram católicos e ele não poderia se casar com ela. Pedro ria por dentro dos medos da mãe. Não pensava em casar com Sara, falava nela constantemente só para ver o alvoroço na família. Era seu jeito de manter o silêncio durante o almoço.


Estava com 17 anos quando fez o vestibular para sociologia. Seu desejo era de “mudar o mundo”. Fazer com que as pessoas enxergassem que “tudo que elas viviam fazia parte de um plano macabro da sociedade consumista e retrógrada”. Comovente e patético ao mesmo tempo. Não precisou de um ano na faculdade para perceber que estava certo em sua visão, mas escolhera o jeito errado de atingir seus objetivos. Acabou entrando em depressão e ficou sem rumo durante muito tempo. Passava os dias deitado na cama pensando, bebendo ou se drogando. Sua mãe estava em desespero. Ele não queria saber de nada nem de ninguém e estava mais fechado do que nunca.

Depois de muita pressão resolveu trabalhar. “Se tivesse seu próprio dinheiro todos calariam a boca”. Ele teria que se curvar a sociedade que odiava, mas não havia outro jeito. Procurou um emprego onde pelo menos se sentisse à vontade, uma pequena livraria perto de sua casa. O dono era amigo de seu avô e Pedro ia lá desde criança para comprar livros. Assim ele estava em casa. Lia muito e conversava sobre livros com os clientes que ficavam abismados com seu conhecimento sobre todos os assuntos. Estava feliz a seu jeito. Em seu habitat natural e sem envolvimentos mais profundos.

Seus amigos estavam todos estudando e namorando, “acabaram sucumbindo à tentação da sociedade castradora”. Ele se sentia “traído e abandonado”. Até Sara parecia ter esquecido-se dele. Mas não importava. ele permaneceria como escolheu. Agora tinha outros planos, seria “escritor de sucesso”. Devorava livros e escrevia compulsivamente. De sua mente brotavam idéias em profusão e escrevia todas, mas nenhuma se ligava a ponto de produzir algo que ele achasse bom o suficiente para tentar publicar.

Os anos foram passando. Seus amigos agora estavam casando e era estranho ver a mudança em sua volta. Quando o avô morreu estava com 26 anos. Ele se fechou de vez na redoma que criou para se proteger daqueles “estranhos que se diziam seus parentes”. Agora a solidão tinha atingido seu ápice. Já não sentia prazer em nada, só o sexo, a música e os livros ainda faziam algum sentido ou pelo menos o tiravam daquela prostração.

Praguejava contra tudo e todos. Não sabia por que as pessoas não o entendiam. “Porque todos queriam fazer parte de um rebanho e não podiam pensar individualmente? E porque o condenavam por querer pensar diferente?”


Era um bom funcionário e acabou virando administrador da livraria, já que o dono já estava velho e não tinha filhos. Ele tomou conta de tudo. Virara um capitalista a contragosto, aumentando preços de livros para manter o negocio funcionado. Morava sozinho com a mãe já cansada e pensava em que ponto da sua vida “errou” para terminar assim.


Sua mãe morreu num domingo. Estranho e poético. Morrer com a família toda em volta como ela gostava. Agora ele estava só no mundo, já que seus irmãos não o viam como bom exemplo para seus filhos, e finalmente acabaram-se os almoços que ele tanto odiava. Nunca achou que diria isso, mas sentia falta do barulho. A casa em silêncio o fez ver que estar sozinho por opção é uma coisa, mas estar assim porque ninguém o quer por perto é insuportável. Mas ele nunca deu o braço a torcer e não daria agora. Tinha 32 anos e tempo ainda de criar seu próprio mundo como achava que deveria ser. “Não desistiria de seus sonhos por nada”.

Um dia chegou em casa um envelope. Era o convite para o casamento de Sara. Uma tristeza profunda invadiu seu coração. Pensar que nunca mais tocaria em sua pele ou sentiria o cheiro de seu cabelo mexeu demais com ele. Não entendia o porquê desse sentimento, afinal fora dele a escolha de ficar só. Ela sempre o amou e até tentou levar a sério, mas ele era duro na queda e não deixaria nem mesmo uma mulher como ela tirá-lo do seu destino solitário.

No dia do casamento reviu todos os amigos. A gangue reunida foi um evento inesquecível. Relembraram as farras, porres e as idéias loucas que surgiam entre um gole e uma tragada. Riu como a muito não conseguia e pela primeira vez percebeu a importância de ter amigos e invejou a felicidade burguesa deles. Quando voltou para casa decidiu que era hora de mudar algumas coisas em sua vida. Fazer adaptações, como ele descreveu.

Não sabia por onde começar. O que teria que ser mudado primeiro? Decidiu que seria o guarda roupa e visual. Deixaria aquele jeito desleixado de lado e seria um homem atraente. Depois reformou a casa. Abandonou o jeito sombrio e agora abria as janelas para o sol entrar. Logo ele, “um amante da lua”. Mas não demorou para perceber que não adiantava mudar por fora se continuava o mesmo por dentro. Conseguia conquistar as moças, mas nunca mantê-las, afinal se defendia tanto que elas fugiam depois de um tempo. Tentou fazer novos amigos, mas nenhum tinha em sua visão capacidade de compreendê-lo. Ainda continuava o mesmo arrogante e elitista de sempre, apesar de achar que a culpa era do mundo.

Um dia Sara bateu a sua porta. Estava triste com o fim de seu casamento e foi procurar consolo nos braços do amigo. Ele a recebeu com uma alegria egoísta. Via nela a sua grande chance. Ela era a pessoa que mais o entendia no mundo e eram tão parecidos que tinha a impressão que era apaixonado pelo espelho e talvez fosse mesmo. Ao invés de demonstrar seu amor ou alterar sua rotina, tentou encaixar Sara nos seus parâmetros. Pôs tudo a perder novamente por sua falta de percepção do outro. Sempre vivera apenas para si e ter que dividir-se em agrados que julgava banais fez com que ela fosse embora mais uma vez e ele finalmente percebesse que não havia maneira de viver ao lado de alguém.

Resignado caiu na farra irresponsável de antes. Largou tudo e disse a si mesmo que agora seria o que sempre sonhara. Agradeceu não ter cedido a Sara, assim era livre de verdade. Tinha dinheiro guardado e morava sozinho. Podia passar algum tempo dedicado a viver intensamente e escrever sobre isso. Quando terminasse publicaria um livro sobre suas experiências. Esse sim seria um sucesso e todos finalmente teriam que engolir que ele era “alguém especial”.

Assim continuou sua sina, numa competição particular com a vida. Quem iria desistir primeiro?

Já estava com 39 anos, quase acabado financeiramente e ainda sozinho. Sucesso? Só entre as prostitutas que adoravam seu jeito inteligente e generoso. Estava na hora de entregar os pontos, mas ele queria fazer em grande estilo e resolveu dar uma festa de ano novo. Esse seria o marco de sua mudança definitiva. Sim. Ele desistiu de ser o guerreiro solitário das causas perdidas. Tinha que admitir finalmente que precisava ser amado como qualquer ser humano normal.

Preparou uma grande festa. Convidou sua família e todos os amigos que fizeram parte de sua jornada de vida. Comprou presentes especiais e arrumou a mesa como sua mãe gostava. Queria mostrar que tinha mudado e que essas pessoas eram importantes para ele.

Sentou e esperou. As horas passaram e a campainha não tocava. Impaciente bebia e tentava se convencer que havia dito a hora errada do jantar. Mais uma, duas horas, e nada. Meia noite... Pedro só e embriagado xingava o mundo enquanto sentia, pela primeira vez, o peso de suas atitudes. Os fogos começaram a estourar no céu e ele chorando como um bebê, deitado no chão da sala vazia.

Eu o encontrei no dia seguinte. Mesmo a revelia do meu pai, eu tinha admiração por Pedro. E foi muito dura a cena que presenciei. Aquele homem sempre altivo e de nariz em pé nu com um tiro na testa. Ao seu lado o revólver do avô. Como companhia apenas seus cadernos e um blues triste tocando em looping. E me perguntei: Será que realmente fazemos nosso destino?

domingo, 25 de janeiro de 2009

Amar dói?

“Solidão a dois... Faz calor depois faz frio...” Gênio o Cazuza. Uma frase simples que traduz meu pensamento agora. Sempre fui solitário e gosto de estar assim, mas se sentir só estando com alguém é frustrante demais. Fico pensando as quantas andam as relações atuais. Tudo é superficial e fabricado. Somos o que escrevemos no orkut ou uma foto montagem de photoshop. Criamos nosso perfil de sucesso e nos relacionamos por códigos e emoticons. Cadê o abraço, o beijo, cafuné??? Não entendo e nunca entenderei.

Faça sexo, não faça amor. Viva no limite do prazer, mas evite a dor. Seduza mas não se mostre. Será um manual amplamente distribuído? Ou estão imitando programas de TV? Ou ainda uma nova campanha publicitária? Tipo: MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: AMOR FAZ MAL. EVITE A TODO CUSTO. Qual será o futuro dessa geração que desconhece a contato real?

Não falo apenas de relações virtuais. Sou um critico voraz desse tipo de “namoro”, mas se ficasse por ai... Tudo bem. O problema é que essa moda pegou firme. As paqueras são por torpedo de celular ou um cara puxando o braço de uma menina a força para depois largar e pegar outra. Quanto mais beijos mais pontos. Yes. No fim da noite os vencedores são...... Dois solitários que dormem sem o aconchego gostoso de um corpo, mas com o ego inflado perante os amigos. Sem contar as esfinges de pedra com seu olhar penetrante e jeito intelectual. Eles/elas te olham e te decifram. Conquistam fácil e nunca, em hipótese alguma, se envolvem. Não. São superiores.

Assustador.

Eu nunca amei ninguém. Talvez eu procure uma mulher que só existe na minha mente. Quem sabe não seja meu destino essa alegria. Por causa disso fico triste em ver pessoas fugindo da “vida com medo da morte”. Escolhas. Sim. Eu prefiro morrer de amor a viver sem ele.

Quem ainda acredita no amor verdadeiro lute porque parece estar em extinção.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Fernando Pessoa

"Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa a sonhá-lo, e eu não." ...

Como um vício

Acordei de madrugada suando frio
Os músculos se contraiam em espasmos involuntários
E aquela dor do corpo típica das crises de privação
Sim, estava sentindo falta da droga que me acalmava

Levantei cambaleante e acendi um cigarro
Tentava desesperadamente controlar o incontrolável
Sentei no parapeito da janela
E a calçada exercia um estranho magnetismo

Desviei o olhar e me afastei da tentação de pular
Precisava urgente de uma dose
Meu orgulho e vontade lutavam entre si
E só eu perdia essa batalha

Já sem forças sucumbi
Me arrastando cheguei ao telefone
Dedos trêmulos discavam automáticos
Aquele número maldito.

-Alô - ouvi sua voz inebriante
Uma onda me invadiu como por mágica
Não respondia temendo quebrar o encanto
Mais um alô e estava saciado

Deitado no chão frio, os olhos arregalados
Meu corpo pulsando e podia sentir plenamente
O coração batendo apaixonado
Então me assumi viciado....

Em você



sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Frankstein

Estou sempre apaixonado. Um estalo hipnótico e lá vou eu atrás da musa inspiradora. Posso ficar horas sentado na calçada observando o movimento de seu corpo. E tal qual um pintor que retrata a beleza em formas curvilíneas, eu escrevo, escrevo e escrevo... Ouço uma voz em melodia, vejo um cabelo esvoaçante ou um cheiro que embriaga e estou amando.
Me apaixono tanto que me considero inapto ao amor social. Aquele amor cheio de regras pré-fabricadas pelas igrejas/castas tradicionais. Não pensem que sou um devasso conquistador que vê o sexo como a única forma de relacionamento. Não. Ao contrário disso, eu amo com todos os poros do corpo. Sinto as dores, as saudades, as oscilações de humor, os medos, a bobeira estampada na cara.... O problema é que esse amor dura o tempo necessário pra nascer um poema. Todos os meus amores “ganharam” um poema. Depois que “meu filho nasce”, parece que não preciso mais da “mãe”.
Egoísmo? Talvez. Mas posso jurar que tudo que sinto é verdadeiro até se tornar concreto em palavras. Daí procuro outras musas como um faminto revira latas de lixo.
Tenho também dificuldade com nomes. Raramente me lembro de algum. O que fica em mim é a característica marcante. Como um caricaturista desenhando, eu me concentro no que me chama mais a atenção. Os cabelos cacheados, olhos verdes, pernas roliças... Cada uma com um pedaço que me encanta. E quando estou solitário releio esses poemas e me sinto um Frankstein do amor, montando a mulher “perfeita”.

Ela existe? Não sei. Mas se existir será a única que amarei

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Servidão Humana

Elenco:Kin Novak (Mildred Rogers)Laurence Harvey (Philip Carey)Robert Morley (Dr. Jacobs)Siobhan McKenna (Nora Nesbitt)Roger Livesey (Thorpe Athelny)Jack Hedley (Griffiths)Nanette Newman (Sally Athelny)Ronald Lacey (Matthews)Olive White (Namorada de Griffiths)David Morris (Philip Carey - jovem)Brenda Fricker

Sinopse:Philip Carey (Laurence Harvey) tem ambições artísticas, mas um crítico o desencoraja. Assim vai estudar medicina e conhece uma garçonete, Mildred Rogers (Kim Novak), por quem fica profundamente apaixonado. Porém, apesar de saírem juntos, ela decide se casar com outro homem. Ao retornar grávida, ele a aceita. No entanto tinha um lado amoral difícil de ser controlado, o que cria novas complicações.


Filme imperdível. Infelizmente não tive a chance de ler o livro e fazer as comparações habituais.
Ver o amor ao olhos de Philip nos deixa sem rumo, perdidos entre a raiva por sua atitude patética e a inveja pela sua entrega. Ele sofre o pão que o diabo amassou nas mãos da mulher que ama. Sem caráter, orgulhosa e ambiciosa, ela tripudia de todas as formas possíveis o coração do pobre homem. Atuações ótimas. Kim Novak está linda e cruel. E uma mensagem para se pensar.

Frases do filme que achei interessantes:

"No último estágio do amor, como na vida, a dor toma o lugar do prazer."

" O problema não foi o amor, ela era alguém fácil de amar, mas que ela me empregnou como uma peste, e não sei como me curar."

A vendedora de sonhos

Ontem conheci uma vendedora de sonhos e foi paixão a primeira vista. Eu sei que não é novidade, me apaixono todos os dias, mas essa tinha um algo a mais. Um ar inocente por trás da maquiagem pesada e um corpo frágil sob o decote ousado. Dançava de maneira hipnótica, rebolando as ancas provocativa. Ah essas danças vulgares da moda... Sabia que fazia sucesso e encarava sem medo os olhares que despertava. Fui seu alvo escolhido, ainda não sei bem o motivo, e pude sentir seu cheiro invadindo minhas narinas, conforme ela se aproximava. Sentou e pediu uma vodka. A princípio falava pouco e ria baixo. Conversamos sobre tudo, de música a filosofia, mas a cada gole a transformação aumentava. Vi claramente a mudança do seu lindo normal para seu ilusório ideal. Não demorou pra estarmos enlaçados em uma cama surgida não sei bem de onde.
Ela parecia um vulcão em erupção, cheia de energia e trejeitos estudados. Porém quanto mais meu corpo penetrava o seu, mais parecíamos distantes. Seus olhos estavam fixos nos meus e pareciam estranhamente tristes. Os movimentos e sons me fizeram sentir um prazer animalesco, de macho conquistador. Apesar de notar que a fêmea que me encantava estava se fingindo saciada, não pude me conter. Depois quis compensá-la, perguntei o que queria e gostava. Nada. Ela mantinha a pose de que tinha sido maravilhoso e me pediu apenas para deitar em meu peito e dormir em silêncio. Acordei e ela havia partido. Não sei seu nome nem telefone. Provavelmente nunca mais nos encontraremos.

Passei o dia de hoje martelando o acontecido. Tentando entender a mecânica daquela mente complexa. O que leva uma mulher tão linda e inteligente a viver tão falsamente o amor, o prazer? Não queria que ela se atirasse em meus braços lânguida e jurando amor eterno, mas queria ver um brilho real em seus belos olhos verdes. A sensação que tive foi de que o sexo era uma terapia ou catarse. Talvez uma vingança silenciosa ou um método auto punitivo. Ao pensar nessa possibilidades me senti tão triste quanto ela. Numa época em que as mulheres podem ser e ter quem quiser porque alguém escolheria ser uma noitada numa cama qualquer?

Algumas mulheres mais radicais me dirão que ela busca apenas prazer. Concordaria se sentisse prazer. Outras dirão que é uma mera vadia que faz da conquista seu sucesso. Essa tese se esvai por ela desaparecer no éter sem a certeza do efeito que causou. Para mim ela parecia mais uma criança perdida, buscando amor do único jeito que conhece, e tentando encontrar um dia alguém que não a faça querer ir embora.

E minhas máculas me impedem de ser esse alguém.